quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A Esquerda Nova e o “Acordo sobre Políticas para Lisboa”

1. A direcção política do Bloco de Esquerda voltou a portar-se mal. E, infelizmente, tornou a dar razão aos aderentes que na 5.ª Convenção, que se realizou a 2 e 3 de Junho deste ano, ousaram levar à votação moções de orientação política alternativas à apresentada pela direcção do movimento. Na essência das críticas então feitas apontavam-se, entre outras, alguma (em tempo pormenorizadamente explicada) falta de democraticidade interna, com destaque para a ausência de participação dos aderentes nas decisões políticas e o pouco, muito pouco, respeito para com quem discorda (ou discordava) da maioria. O processo que culminou no denominado “Acordo sobre Políticas para Lisboa”, celebrado entre o Partido Socialista (PS) e o Bloco de Esquerda, é, infelizmente, a demonstração mais evidente de que as críticas então feitas tinham razão de ser.

2. O acordo foi anunciado pelo semanário “Expresso” no sábado passado, dia 28 de Julho, estando a respectiva notícia fundamentada em “uma fonte do Bloco de Esquerda”. A Comissão Concelhia de Lisboa só depois o votou favoravelmente. E a Mesa Nacional – órgão máximo do Bloco de Esquerda entre convenções – só debaterá a situação “na sua próxima reunião” (versão oficial). Acrescente-se: a crer nas notícias da Comunicação Social, numa versão até agora não desmentida, dois dos mais altos responsáveis do Bloco de Esquerda nem sequer participaram na reunião da Comissão Política, e dos restantes dez apenas um votou contra o acordo! Significa isto que, uma vez mais, as decisões políticas foram assumidas sem que os aderentes tenham sido informados ou consultados. Mais: à revelia de todas as promessas feitas, inclusive na primeira (e única, até à data) reunião da Mesa Nacional, realizada em 23 de Junho de 2007.

3. Independentemente do conteúdo do denominado “Acordo sobre Políticas para Lisboa” – que até poderá ter algumas, não muitas, vantagens efectivas para o dia-a-dia dos lisboetas, apesar das subtilezas linguísticas óbvias (e que só o tempo esclarecerá) entre o que está, agora, escrito, e o que foi redigido e apresentado, em campanha eleitoral, pelo Bloco de Esquerda e José Sá Fernandes – fica evidente que a prática política interna do Bloco continua insuficiente para os que acreditam que é exactamente na vivência do debate e em debate que são construídas e sustentadas as propostas da Esquerda Socialista.

4. Ainda mais complexas são as interrogações suscitadas por este, aparentemente, novo caminho do Bloco de Esquerda, ao arrepio de todas as anteriores orientações. Será que está em curso um(a) acordo/negociação com o PS com vista às legislativas e autárquicas de 2009, que se realizarão praticamente em simultâneo, de acordo com a referida notícia do “Expresso”? Será que o princípio subjacente ao “acordo de Lisboa” é em tese aplicável aos restantes municípios do país? Será que no Porto, por exemplo, o Bloco de Esquerda deve negociar de imediato com os seus parceiros da oposição de Esquerda um eventual acordo semelhante? E nos restantes municípios?

5. E, essencialmente, quando é que os aderentes serão informados ou chamados a participar no debate dessas negociações?

6. A direcção política do Bloco de Esquerda não deve, nem pode, caucionar práticas que ela própria, em Convenção e na Mesa Nacional, rejeitou! A direcção política do Bloco de Esquerda não pode, nem deve, hipotecar o futuro do movimento da Esquerda Socialista em nome de um esconso acordo com ganhos políticos demasiadamente obscuros. A direcção política do Bloco de Esquerda tem de aprender que é preciso entender a diferença, e que a diferença se faz em diálogo no seu próprio seio. Porque o Bloco de Esquerda, lembre-se, é feito por todos os que lá estão!

2 de Agosto de 2007.

Um comentário:

OBJECTIVO: SOCIALISMO! disse...

Custa-me entender como. depois deste texto é possivel continuar com as insinuações a que vimos assistindo em textos , nomeadamente publicados no sitio do Bloco de Esquerda.

Ferreira dos Santos

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