quinta-feira, 21 de junho de 2007

"Fascismo comportamental"

Assistimos a uma situação que supúnhamos completamente erradicada da sociedade portuguesa após o 25 de Abril de 1974.

Há cada vez mais cidadãos que afirmam ter receio de manifestar a sua opinião, temendo represálias.

Como se desenvolveu este “medo” entre os portugueses?

O alto nível de desemprego (mais de 500.000 desempregados, segundo os dados oficiais) e um emprego de carácter precário cada vez mais alargado (recibos verdes, contratos individuais, trabalho temporário e sem direitos, sub-contratação) contribuíram para um individualismo que leva à não sindicalização dos jovens entrados no mercado de trabalho e, mesmo, à desvinculação dos sindicatos.

A isto não é alheia uma certa incapacidade, por parte dos sindicatos, em se prepararem para novas situações que pouco têm a ver com as relações de trabalho que existiam no último quartel do século passado.

A actuação do Governo, apoiado numa maioria absoluta do PS, mas com uma prática de direita, tem contribuído para diminuir a capacidade organizativa e as respostas colectivas dos trabalhadores.

As ameaças desencadeadas pelo Governo contra sindicalistas, professores, trabalhadores da saúde e restantes funcionários públicos, utilizando contra eles o mais descarado e vil populismo – vejam-se os “castigos” aplicados a quem tem a “desfaçatez” de criticar membros do Governo, directores-gerais ou outras entidades consideradas intocáveis, e a enorme arrogância usada pela maioria no seu discurso politico –, provocam alguma revolta, mas também uma certa impotência nos sectores menos mobilizados da sociedade.

À esquerda socialista cabe um importante papel ao denunciar estas atitudes anti-democráticas que roçam já o “fascismo comportamental” a que se referem alguns teóricos da política.

Nós, no Bloco de Esquerda, estamos obrigados a não deixar passar nenhuma situação de ameaça às liberdades democráticas sem que a denúncia pública seja conseguida, com propostas de actuação alternativas que permitam manter vivas a esperança dos nossos concidadãos na democracia e a sua capacidade de luta colectiva e organizada.

A nossa atenta vigilância e actuação de resposta devem estar onde quer que a democracia e a liberdade sejam espezinhadas, pelo Governo, pelas autarquias, nos locais de trabalho ou nas escolas.

Ferreira dos Santos

2 comentários:

OBJECTIVO: SOCIALISMO! disse...

Há, de facto, um monstro em crescimento nas democracias liberais: o medo que tem gerado, para já, uma espécie de "fascismo comportamental".
Mas a isso acrescento um outro paradigma do liberalismo da era da globalização: o liberalismo dos nossos dias é uma espécie de totalitarismo!
Explico: o liberalismo utiliza, nos nossos dias, o individualismo (que sempre promoveu) como o motor para controlar consciências, condicionar comportamentos, fazendo da formalidade democrática uma hábil forma de condicionar também a vontade popular. O liberalismo exerce uma dominação ideológica sobre a sociedade, que a concebe como uma espécie de "grande empresa", socorrendo-se de meios policiais/securitários para o êxito dessa dominação.
Daqui surge a necessidade urgente, por parte de quem diz querer um modelo de sociedade alternativo, de promover uma critica global e permanente ao liberalismo/capitalismo. Critica ao modo de fazer política pelas democracias liberais, critica à chamada economia de mercado (mesmo que "social"), critica à verdade mentirosa (!) dos serviços "públicos" do Estado burguês de orientação simultaneamente liberal e bonapartista, ... , critica global mas com capacidade de gerar e fomentar alternativas concretas!
A concretização de uma alternativa socialista exige capacidade para a gerar FORA das balizas das democracias liberais: por fora do parlamento, por fora das empresas, por fora das instituições, na capacidade de gerar movimentos sociais de ruptura colectivos!

OBJECTIVO: SOCIALISMO! disse...

Por lapso, não me identifiquei no comentário imeditamente anterior: João Pedro Freire.

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