terça-feira, 9 de outubro de 2007
Tão democratas que eles eram...
Após o anúncio de uma manifestação aquando da visita à Covilhã do primeiro-ministro, dois elementos da PSP, ou assim identificados, sem qualquer mandato e à paisana, visitaram instalações do Sindicato dos Professores, onde se apropriaram de documentos e “avisaram” os sindicalistas para que tivessem cuidado com a linguagem a utilizar na manifestação.
Esta “acção policial” vem no seguimento quer das infelizes declarações do primeiro-ministro, quer das acções a que assistimos pela televisão, da GNR a retirar cartazes e a afastar e identificar manifestantes na visita de José Sócrates a Montemor-o-Novo.
Estes actos não ocorreram na Birmânia, nem em qualquer das “democracias” da América Latina, nem sequer antes de Abril de 74. Tiveram lugar em Outubro de 2007, 33 anos após a consagração do direito à manifestação e a sindicatos livres.
O PS, que sempre enche a boca com a sua alegada luta pelas liberdades, deve, pelo menos, um pedido de desculpas aos portugueses por esta forma grosseira e canhestra de intimidação, garantindo que não voltará a acontecer. Não basta o inquérito alegadamente mandado instaurar pelo ministro à acção da PSP, que habitualmente não agiria ao arrepio das indicações dos seus superiores hierárquicos e do poder político.
Por outro lado, não parece que o PSD esteja em condições de dar lições de democracia a quem quer que seja, dado que foi em governos PSD/CDS que se iniciaram os ataques aos direitos dos trabalhadores e aos seus sindicatos.
Não esquecemos que o actual presidente da República utilizou, mais de uma vez, os argumentos agora plagiados por José Sócrates, quando era confrontado com manifestações contrárias (quem se não lembra do buzinão da ponte 25 de Abril?, e de outros).
Com isto não se pretende afirmar um acordo incondicional às formas e conteúdos das manifestações e contestações que têm ocorrido. Elas manifestam uma enorme falta de criatividade, formas demasiado repetitivas e pouco mobilizadoras, mas tal não equivale a que se pactue com atitudes antidemocráticas venham elas donde vierem. É uma questão de princípio.
Ferreira dos Santos
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