Algumas notas a propósito das eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa hoje realizadas:
- As direitas sofreram uma pesada derrota eleitoral (não vão além dos 40% no seu todo!). Como consequência imediata do verdadeiro colapso ocorrido, Telmo Correia (CDS/PP), que não foi eleito vereador, demitiu-se de todos os os cargos que ocupava e Paulo Portas abriu um tabu de silêncio ("período de reflexão") para as próximas duas semanas; no PSD, Marques Mendes marca eleições directas para a direcção partidária. Não será, certamente, o princípio do fim da Direita em Portugal, mas é, seguramente, tempo para "cerrar de fileiras". Portas & Mendes sabem-no.
- Esta eleição ficou marcada por uma abstenção recorde: 62,61%!
- Apesar do anormalmente elevado número de candidaturas - e que, previsivelmente, provocaria maior dispersão no eleitorado que por tradição vota à esquerda do PS -, o Bloco de Esquerda conseguiu reeleger José Sá Fernandes como vereador e manter uma votação percentual, apesar de tudo, muito próxima da obtida nas autárquicas de 2005.
- A maioria anunciada do PS e de António Costa não foi tão longe quanto as várias sondagens antecipavam: 29,54%.
Algumas notas a reter, na sequência das intercalares de Lisboa:
- O fenómeno das chamadas candidaturas "independentes" (independentemente de o serem ou não de facto, e das crises políticas que, genuinamente ou não, dão origem a elas) deve ser estudado e aprofundado. A votação de Helena Roseta - 10,21%, 2 vereadores - é um excelente caso a analisar com detalhe.
- A votação de Carmona Rodrigues: 16,7%, 3 vereadores. O populismo fácil, a vitimização constante e a aquela necessidadezinha de vingança pessoal explicam, só por si, tal desempenho? Julgo que não. A total ausência de crítica por parte de António Costa durante a campanha eleitoral foi um importante contributo para uma certa "operação lavagem", mas não foi tudo. Por razões completamente diversas do anterior, trata-se de mais um fenómeno que carece de análise e de explicação.
- Com a distribuição final de mandatos, António Costa vai ter de gerir a sua minoritária maioritária num de dois sentidos: com acordos pontuais, à esquerda e/ou à direita; ou através de um acordo com Carmona Rodrigues, ou com Helena Roseta, ou com a CDU, e eventualmente com o próprio Bloco. Significa isto que estão criadas condições para uma democracia muito mais participativa do que a que tivemos até agora.
- Mas, estará o PS interessado num debate alargado? As afirmações de José Sócrates na noite da festa eleitoral não foram um bom prenúncio...
Paulo F. Silva
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