segunda-feira, 16 de julho de 2007

Vencer sem convencer

Texto de Miguel Portas, publicado hoje em "sem muros".


Eis os meus primeiros comentários, ainda a quente:

1. A elevada taxa de abstenção aponta o dedo a 3 responsáveis precisos e a um último, este difuso: em primeiro lugar, para quem marcou a data da eleição. O tribunal é responsável por boa parte do acréscimo de abstenção (10 pontos percentuais); em segundo, os responsáveis pela gestão anterior, PSD e Carmona Rodrigues, respondem por outro pedaço; José Sócrates também ajudou à festa; e, finalmente, o ambiente geral de desconfiança na política enquanto exercício do poder, também entra na equação. Pelo que ainda falte explicar.

2. António Costa venceu sem convencer. Foi mais penalizado por José Sócrates do que pelo aeroporto ou pela frente ribeirinha. Fica-se pela bitola baixa do seu objectivo, sem atingir 30 por cento. Com 6 eleitos tem um problema suplementar, o da formação de uma maioria. Veremos como segue o baile.

3. Na direita, abre-se a tempestade. CDS fora de jogo; PSD com o mais humilhante dos resultados, ultrapassado pelo seu ex-independente de serviço. No conjunto, a anterior maioria passa de 137 mil votos para 71 mil e perde 3 eleitos. Quem some estes resultados à posição de Marques Mendes sobre o referendo europeu, não duvide: até Outubro teremos nova liderança laranja.

4. As esquerdas à esquerda do PS obtêm o seu maior resultado desde meados dos anos 80 - 26.5 por cento. Roseta, Ruben e Sá Fernandes toalizam 52 mil votos, menos 6 mil do que o PS, e elegem, no seu conjunto, 5 vereadores. Pode dizer-se que esta aritmética oculta uma realidade fragmentada. É verdadeiro e falso. Verdadeiro, porque tal é o quadro político realmente existente. Falso porque, sociologicamente, a adição é certeira. Nem todos os votos de Helena Roseta foram subtraídos ao PS, PC e BE. Houve, aí, algum novo voto e outro arrancado à desilusão que bebe numa certa cultura anti-partidos. Mas, globalmente, o voto de Helena Roseta, como o de Manuel Alegre nas Presidenciais, traduz uma nova vontade de inflexão à esquerda na política portuguesa.

5. PCP e BE resistem à emergência de Helena Roseta bem melhor do que o PS e muito melhor do que o PSD em face de Carmona. O PS perde 17 mil votos face a 2005, o PC 13 mil e o BE 9 mil. Destas perdas, Helena recupera metade e as férias levaram a outra. Outra discussão é o que fazer com estes resultados.

6. Sá Fernandes foi eleito. Foi o maior dos actos de justiça do eleitorado lisboeta. A ele se deve a mudança de maioria. Com ele se deve fazer a mudança de política.

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